sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

28.12.2012
No outro dia olhas-te para os meus olhos cor de mar e não disseste nada, todos os teus músculos faciais contraíram-se e foi das poucas vezes que pude presenciar uma demonstração de afecto tua. Sorriste. E é raro sorrires sem falares. Mas naquela altura já nenhuma palavra servia, os teus olhos castanhos mél estavas tão conectados com os meus, que senti faiscas ao nosso redor, como se de um campo magnético se tratasse. Estávamos a transmitir reacções fervorosas de amor num gesto tão pessoal como a telepatia. E lembrei-me imediatamente da música que costuma tocar no nosso carro quando vamos até à ravina da saudade, "Find light in the beautiful sea, i choose to be happy, you and i, you and i, we're like diamonds in the sky". Concentrei-me tão em ti e deixei-me levar por toda a letra da música, porque tu brilhas, brilhas no teu encanto singular e omnipresente. E todos os teus sentidos ficam apurados como um Deus que surge das cinzas e purifica todos aqueles ao seu redor. Tu és a minha primeira porta a bater, no meio da escuridão, e enquanto isso assim for dormirei descansada porque sei que estarás lá para mim. "So  shine bright, tonight, you and i, we're beautiful like diamonds in the sky, eye to eye, so alive, we're beautiful like diamonds in the sky".

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

24.12.2012
E lá fora fazia sol mas o coração não estava para aí virado. O momento estava tão paralisado que nada se ouvia. O joelhos estavam negros, eu sempre fui de me atropelar em sonhos e quase morrer em vários. Mas esta manhã foi diferente. Tudo estava mais preto e branco e apenas reconhecia o cheiro a orvalho lá fora. O orvalho?! Impressionante, já nem o teu cheiro na almofada me faz sentir feliz. Eras o pedaço de coração que mais saltitava, no entanto nos últimos dias já estavas habituado a mais me magoar. 
Mas amor é isso, tropeçar enquanto iludidos estamos e esfolar os joelhos até sangrarem de dor e angustia. Não termos mais paz e mergulharmos na ousadia de tentarmos agradar o outro com mentiras e irrealidades. Sabes? era isso que eu te dizia sempre que o tema de conversa era o destino ou a falta de credibilidade dele.
                                                                 May Rose, New Zealand, 1920  

sábado, 22 de dezembro de 2012

22.12.2012
Hoje deixei-me morrer e deixei de te seguir, não espero mais pela tua noção de que me deves perdão. Esperar que o céu fique mais claro não é suficiente, quero aprender a conviver com a tempestade, mas não a tua, não mereces tal preocupação com as gotas que caiem e se esfolam nas pedras mais pontiagudas do solo. Queria ter boas recordações de ti mas essa tua religião não o permitiu, porque nunca foste educado a saber pedir desculpa quando não consegues dormir com pesos de consciência. Se é que um dia os tiveste.
Mas continuo a querer aprender a conviver com a tempestade, quem sabe um dia não tenha de falar com um furacão e todas as palavras cortantes que ele desafiar enviar-mas serão estancadas com a defensa imune que quero adquirir. E não sei se é de mim ou de ti mas voltei a sentir-me magoada, como antes. Deixei entrar algo que de bom era e voltei a regar-me com veneno. Foste tão astuto nesse jeito que agora sinto-me presa à morte, como antes me sentia. E se anteriormente não queria mais sentir-me viva, hoje não quero mais sentir-me ligada a ti, foste parte de uma pedra que me atormentava a minha curta caminhada.
Somente agora me resta o amor pela minha alma gémea, ele sim sabe decifrar todas as minhas legendas ilegíveis, já tu não passas de um mero carimbo sem tinta. Sem tinta e sem coração.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

20.12.2012
Só quero receber apenas uma mensagem tua amanhã, não quero que lamentes o que não foi dito ou feito, pensar em resoluções para atenuar a dor nunca foi solução. Dá graças por termos caminhado sobre o mesmo pedaço de mar ou respirado a mesma fonte de oxigénio. Acredito que foram essas coincidências geniais que um dia alguém inventou para a sua própria sobrevivência que nos fez chegar aqui, longe da monotonia das outras relações e da desconfiança da incerteza humana. E somos conectados por um fio invisível que não conduz mais electricidade. Um fio de saudade dissonante. É amando-te assim que os cosmos se alteram e os astros mudam as suas preferências, como bolas de gelo que derretem ao som de "Don't you worry child" de SHM. O nosso amor é assim, natural como a sua natureza, como tu e como nós. Por isso não te esqueças, amanhã quando achares que o fim do mundo chegou manda-me mensagem, ou liga, quero saber o que me vais dizer quando só nos restar um minuto de vida.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

18.12.2012
Já não sabia não dizer-te como estava o tempo pela manhã. Afastar as cortinas e abrir as janelas para poder respirar o ar que corria a toda a velocidade lá fora, por entre a pressa de cada um de nós que tem uma vida própria tão ou mais complicada que a do outro. Dar-te a novidade meteorológica era a minha única desculpa para poder conversar contigo, e após esse assunto, mais viriam e estaríamos ali horas e horas sem nos apercebermos que o tempo para estarmos juntos já tinha acabado. E depois recolhias-te novamente para o teu único e confortável lugar.
Agora não sei mais se isso foi o certo a fazer porque nada de certo é o passado. Mas quando me lembro das nuvens a mexer e das variadas formas que eras capaz de encarnar ao vê-las, perco a vontade de odiar o que em tempos foi natural de viver. E sinto que fui feliz por meros instantes quando cada sorriso era motivo de insónia ou a felicidade reflectia-se em todos os dedos entrelaçados. Mas deixa passar, não há nada pior do que querer voltar atrás..

domingo, 16 de dezembro de 2012

16.12.2012
Trágico foi não sentir mais a tua respiração porque todos me apertavam e sufocavam. Tentavam tirar-me dali, tentavam acalmar-me como que se de um dia normal se tratasse, e eu só pensava em não mais parar de te chamar. Não sabia mais nenhum nome a não ser o teu e no entanto isso não te fez acordar porque do outro lado a vida é sempre mais apelativa. E eu implorava por tudo que voltasses a mim e que toda aquela história velha de "ver a luz ao fundo do túnel" não estivesse nesse preciso momento na tua cabeça. 
E quando a tua mão deixou de apertar a minha, o teu coração também deixou de seguir o meu e foi o momento mais inconstante de toda a minha vida. Eu queria acreditar que simplesmente te tinhas esquecido de apertar a minha mão porque o momento estava tão confuso e incompleto. Queria acreditar que estavas cheio de vida nova, que ias acordar e voltar a sentar-te a meu lado depois de um dia de café e cigarros e voltar-me a dizer, "Quando é que aceitas casar comigo?"
Já se ouvia de longe choros corridos e vozes desconhecidas a lamentar o sucedido e eu ainda estava ali, a tentar perceber o porquê de não abrires mais os olhos para mim. E sem querer caiu me uma lágrima, e eu sei o quanto odeias que eu chore, mas foi tudo tão doloroso que até as pedras da calçada fizeram o luto. Já não havia mais razões para continuarem ali a impedir-me de estar a teu lado porque no fundo tu já não estavas ali, somente o teu corpo me acompanhava.
Agora percebo a tua vontade de partir para o outro lado, esta vida é tão monótona e cinzenta que nem sempre dá vontade de continuar. Mesmo assim sinto-me devastada com o teu esquecimento de me levares contigo, eu estava bem aqui, não poderias gritar pelo meu nome? Como eu fiz com o teu quando te vi naquele chão estendido, envolvido em poças de sangue e com uma cicatriz na face direita. Estava bem aqui para me levares contigo. 
May Rose,  New Zealand, 1934

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

12.12.2012
O engraçado é que eu não quero escrever mais nada que me leve a ti. Porque escrever para ti dá muito mais trabalho do que escrever sobre mim e eu sou das pessoas mais complicadas que conheço. Não quero limitar-me a redigir qualquer texto com base em memórias melancólicas, tristes, memórias sem nome e sem sentimento. Foste apenas isso, metade de um sentimento que nem lugar teve para se preencher no seu todo. E enquanto vagueio pelo esquecido passado, obrigatoriamente estou a tomar-te como pensamento. E que ridículo é pensar em ti depois de tantas vezes que o sol se pôs e a lua apareceu. Não sabes tu outra coisa senão fugir, como o astro faz sempre ao final do dia, fugir e voltar quando menos te quero por perto. Despertas em mim o meu pior, o pior que jurei nunca mais querer ver.
Por isso cala-te para sempre, deixa-te estar no desconhecido porque ainda não comecei a sentir a tua falta, o que é estranho porque sempre que faz frio de noite és a primeira pessoa a quem o meu inconsciente recorre. És como o mar, vais e vens, e se soubesses o quanto eu gosto do mar, jamais terias essa atitude que me faria comparar-te a tal. 
Enfim, és reluzente e insignificante. Estou cheia de ti, expludo a cada hora de mais necessidade. Mas cansei de ser opção. Nasci para preencher o total de um coração.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

11.12.12, Dear Abbie
O que a restava era escrever, escrever o que ninguém um dia iria ouvir, ou saber. Caneta, papel e toda uma madrugada pela frente. Esvaziava-se completamente de si e pouco antes dos primeiros raios de sol, o fogo transformava tudo em cinzas. Era o seu prazer maior ver as suas angústias virarem pó, e a fumaça cinzenta que ardia nos olhos fazia-a chorar por um breve momento. É certo que ela era um mistério e que ninguém compreendia o seu silêncio. Mas quando se aprende a ser sozinha, e a queimar os sentimentos derramados num pedaço de papel, falar torna-se dispensável, e as pessoas, também.
May Rose

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

10.12.12
Não sei se é o tempo ou se somos nós. Mas a vida torna-se tão crucial quando do nada existe momentos intelectualizados e inesperados. Tornas-te tão guerreiro da tua própria vida e tão príncipe da minha. E é dessas maravilhas que se formam a corrente que trespassa o meu coração e o guarda. São essas forças da Natureza, igualadas a amor, que nos deixa viver de paixão todos os dias. Um de cada vez para não existir sufoco. Sufoco de mim.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

06.12.12
Não tive a necessidade de o dizer. Aliás, nem consegui. Foi muito mais fácil fingir que não me importaria com a tua ausência, e assim, deixei-me ficar no meu lugar. Enrolei-me em mantas até perceber que o problema não eras tu, era eu. Facilmente deixei-me desinibir pela novidade e nem me deparei com os riscos que isso iria causar. Não da forma como foi. Fiquei tão estática na altura que ainda me revejo nesse pranto. Achei que até então nada tivera sido sincero, apenas circunstâncias momentâneas e pedaços de nunca riscados com sabor a probabilidades reduzidas. Foi desta forma que fiquei como um pássaro sem ninho, petrificado no meio de uma auto-estrada. Imóvel como um fantasma. E faço por não pensar no que aconteceu, as recordações são demasiado inúteis para alguém que tem horrores ao passado. Mas faço deste exemplo o último exemplo, senti que se não foi aceite foi porque os céus já há muito têm o lugar certo ocupado. E se não fui eu e tu, serei eu e ele. Porque ele é muito mais Deus que tu e no meio de tantos defeitos o amor acaba por ser verdadeiro. E não palavras ditas porque o momento proporcionava para tal. 

sábado, 1 de dezembro de 2012

"Apocalipses são sempre particulares. Não é um único fim do mundo, não é uma única batalha no final dos tempos. A catástrofe é todos os dias, dentro de cada um."
Estou a sentir demasiado a tua falta e não queria nada ter de escrever sobre estas angústias. E de tanto pensar que já te esqueceste das frases certas sinto-me cada vez mais asfixiada. Asfixiada de um amor proibido e impossível. Mas gosto de sofrer por ilusões. Não queria nada sentar-me de novo no mesmo banco de autocarro, a ouvir a mesma música e a não me lembrar de ti. Porque não lembrar-me de ti faz me lembrar de males maiores. Aqueles males que eu tento fugir de madruga até ao pôr do sol.
Quantas vezes eu não deixei fugir o último suspiro depois de uma palavra tua, quantas vezes eu não me antecipei na doce forma de iniciar uma manhã, quantas vezes eu não deitei tudo a perder com a minha irracionalidade infantil e bipolar. E quantas vezes desculpaste-me tu. A culpa é tua de eu acreditar que há males que vêm por bem. Porque isto de certo não tem nada, muito menos de bem. Chegas-te com a flecha na mão, tiveste sorte na vida e acabaste por me acertar. Na pessoa mais fraca e indefesa. Agora desfruta do prazer que é conviver com uma alma. Apenas alma, porque pessoa já eu fui um dia. Quando o céu era cor de rosa.
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