E de todo o vazio incontrolável naquela sala, foi o teu que me despertou. Sentia todas as partes do teu corpo a vibrarem, como cordas de um instrumento musical. Estavas tenso e fechado. Estavas tão tu próprio que as pessoas chegavam mesmo a perguntar se estavas bem. Tu nunca estiveste bem, nunca foste de pegar numa caneta e escreveres até as mãos sangrarem. Nunca foste de sorrisos, de frases longas ou de cortês simpatia. Sempre foste o mais controlado e ansioso daquela sala. E resultante de tal memória, ainda me invade o cheiro a pó, incrustado em toda aquela camada de papel de parede velho, sujo e rasgado. Lembro-me como se fosse ontem que estavas sentado na terceira cadeira a contar do fundo, junto à janela que tem vista para o monte. Eras tu e a tua ousadia de nem pestanejar. Mais uma vez eu gostei de ti. Só não sabia que tu eras eu há uns anos atrás.
May Rose, 27 de Novembro, 2012