sábado, 23 de janeiro de 2016

Foste mais um nómada sem rumo

Hoje reconheço que a vida é uma porta aberta para viajantes nómadas sem rumo. Digo isto porque em mim já foram dados tantos passos que eu mesma perdi a conta. Gente que passou e não quis ficar ou não conseguiu ficar. De tantos adeus que disse, o teu foi o mais doloroso porque a tua despedida foi a mais inesperada e fugaz. Senti que, em algum momento, tinha marcado com a minha presença a tua viagem e que tinhas tomado a decisão de ficar, enganei-me. Este engano foi resultado de inúmeras expectativas criadas em torno de todas as frases trocadas e de várias promessas ou falsos juramentos. Foste-me dando certezas, acreditei num lugar perto de ti, hoje aceno-te com a cabeça pois as mãos congelaram na espera do teu longo abraço de agradecimento, um conforto que há muito esperava. Hoje não te vejo mais, não te oiço, nem sinto mais a tua presença atrás de mim como uma sombra que me acompanhava. Hoje sei que existes porque um dia te conheci mas se não te conhecesse, hoje não sentiria a tua falta. Construimo-nos com as desilusões que nos caiem aos pés. Eu esperei pela tua coragem para me dizeres que o nosso tempo tinha acabado mas até hoje nunca te vi com vontade de me dizeres adeus. Certamente que o futuro não estava guardado para nós, que o espaço que eu tinha aqui vazio não era para ser acampado por ti e que todas as vezes que me disseste que iríamos estar presentes um para o outro não era verdade. Eu esperei demais de ti, expectativas que não curam mais uma desilusão que está prestes a cair ao chão.
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