25 Janeiro 2013
Decidi escrever porque o autocarro já vai a meio do caminho e eu continuo a olhar em meu redor e a ver-me em constantes personagens. O barulho é ensurdecedor, não me oiço a respirar mas sei que o estou a fazer. Sinto-me viva, por incrível que pareça, hoje sinto-o. E enquanto passo os olhos por vários seres distintos, sinto a necessidade de pegar na caneta e escrever quantas saudades tenho do passado que não mais volta.
Olho para um lado e lembro-me de como era estar apaixonada por um amor impossível. Quando ele entrava no autocarro e, sem querer, trocávamos olhares, olhares que para mim ferviam como água sem gás. E tudo culminava num misto de faiscas efervescente capazes de desmoronar a qualquer altura, ou melhor, quando os olhares mudassem de direcção e a viagem continuasse. Depois, ao olhar para trás revejo-mo na pele daquela rapariga que tinha uma viagem inteira para contar tudo o que tinha acontecido na noite anterior à melhor amiga. Os risos eram a fonte mais viva de toda a conversa e sinto saudades de ter uma melhor amiga a tempo inteiro - suspiro como um nada e solto a voz para lhe dizer que aquela amizade não vai ser verdadeira para todo o sempre, mas para quê destruir sonhos? nunca ninguém me o fez..
A viagem já vai a mais de meio e ainda me vejo na rapariga que dizia que estava cansada de tudo, que o mundo não é mais que um simples circo e que as cenas cómicas não alegram mais ninguém - Esta era eu quando me apercebi que o amor é só um acontecimento que dói de maneira estúpida e indecente.
E eu não condenei ninguém, escutei, reflecti e sorri, "eu era assim". Foi a viagem mais penetrante de todo o momento, sentia que tinha tantos heterónimos como Pessoa e que eles estavam ali, a lembrar-me do passado. E tudo isto numa viagem de autocarro.