terça-feira, 20 de maio de 2025

Nunca soube nada de ti. Mantive-me à espera da carta que nunca chegou. Do suspiro que me iria desvendar o passar do tempo e como o decidiste ocupá-lo. Tinhamos umas quantas contas por fechar e uns quantos lençóis por dobrar. No fundo, tudo o que partilhámos ficou no mesmo lugar porque eu decidi não chamar o fim. Não chamá-lo, como quem diz, não olhar para a porta a fechar e achar que a mesma nunca mais se iria abrir para a tua chegada. Nunca quis tanto deixar uma ferida aberta porque sei se a colocasse ao ar ela iria sarar e eu não quero que sare... quero que doa porque enquanto doer sei que o que tivemos teve sentido, pelo menos para mim. No outro dia, enquanto caminhava por uma rua meio inclincada, pensava em ti e em nós e em como nos deixámos escorregar pelas subidas da vida. Tinhas sempre a certeza que a dificuldade da subida iria ser aproveitada quando chegassemos ao topo. Só não me disseste que nunca lá íriamos chegar. Tu eras o meu coração de cinza porque todas as outras cores eram demasiado obsolentas para ti, "eu sou uma pessoa vintage", dizias. Traçava-te em mim, mesmo sem cor, porque no fundo foste tu que me fizeste apreciar o cinzento da vida. O equilíbrio. Hoje não estás. Não sei onde andas. Só quero que saibas que comecei a gostar de amarelo e que já sei saltar à corda. Espero que estejas bem. Até um dia.
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